Artigo:DINO “ENTERRA” OS 5O ANOS DE ATRASO


Por Abdon Marinho.


ANTES que o apressado leitor conclua que o governo comunista acabou com o atraso no estado e colocou o Maranhão nos rumos do desenvolvimento, alerto que não é nada disso, o que fez foi apenas sepultar o velho hábito – depois de quatro anos –, de colocar a culpa do próprio insucesso na administração do estado no grupo político a quem sucedeu.

O fato político dos últimos tempos na política estadual foi o encontro do governador Flávio Dino (PCdoB) com o ex-presidente José Sarney (MDB) em todas as rodas só ouve, só se indaga sobre este fato. Cada um especulando de uma forma.

A cabeça dos xerimbabos deu um nó. Acostumados a defender o atual governo colocando a culpa nos governos anteriores, mais, precisamente, nos cinquenta anos de atraso da oligarquia Sarney, muitos ainda não sabem o que dizer, ou, cinicamente, indiferente a tudo que disseram até então, passaram a elogiar esse “grande ato político” destes “homens extraordinários”. 
Quando soube do “encontro” a primeira lembrança que me veio à cabeça foi da “Penitência de Canossa”, a que se submeteu o rei Henrique IV, do Sacro Império Romano-Germânico, em janeiro de 1077, quando ficou por três dias fora das portas de Canossa, descalço, sobre a neve, vestindo apenas uma túnica, para levantar a sua excomunhão decretada pelo papa Gregório VII e continuar rei. (A pintura de Eduard Schweizer, de 1862 – que ilustra este texto –, retrata aquele momento).

Com mente fértil, imaginei sua excelência indo bater à porta da mansão de Sarney, após sempre tê-lo “destratado” e lhe impingido todas as culpas pelas desgraças do estado e do nosso povo. Claro, diferente de Henrique IV, Dino não teve que ficar três dias à porta para ser recebido por Sarney. Bateu, algum empregado abriu a porta e o conduziu ao ambiente onde estava o velho morubixaba. Talvez este o tenha feito esperado um pouquinho – nada capaz de ferir a boa educação –, bem diferente do que passou o antigo rei excomungado.

O encontro foi tratado com discrição pelo anfitrião – exceto pelos comuns vazamentos aos jornalistas amigos do clã familiar –, que a ele não se referiu na coluna que assina no O Estado do Maranhão ou mesmo nas suas redes sociais.

Indagada sobre o assunto, a filha, ex-governadora do estado, teria dito: “— Normal. Sarney é o maior político que o Maranhão já teve e até hoje uma das maiores expressões do nosso país. Portanto, ele não poderia jamais deixar de atender a um pedido de visita do governador do seu estado”.

A discrição de Sarney sobre a tertúlia contrasta com o comportamento do governador, que fez questão de alardeá-la, colocando-a na conta de grande feito político, são suas estas palavras: “hoje conversei com o ex-presidente José Sarney sobre o quadro nacional. Apresentei a ele a minha avaliação de que a democracia brasileira corre perigo, em face dos graves fatos que estamos assistindo. Já estive com os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique, com a mesma preocupação”.

Ora, sabe-se que a política é um xadrez intricado, mas o que esperar de resultado prático do diálogo entre o que “já teve” com o que “nada tem”. Em política, uma das primeiras lições é: manda quem tem mandato. 

Daí causarem as mais diversas especulações o “pedido de visita” – como fez questão de frisar a ex-governadora Roseana Sarney –, feito pelo senhor Flávio Dino ao senhor Sarney.

É certo que o ex-presidente ainda goza de prestígio, mas esse é meramente cerimonial. Já não “mandando” na política nacional como outrora. Mesmo aqueles que “se fizeram” graças ao seu nome, por ele já não quebram lanças.

O maior exemplo é o que ocorreu no Maranhão, quando o único membro da família a conseguir um mandato abdicou do nome dele. 
Já o governador, por mais que tente, até aqui, não conseguiu “vender-se” como liderança nacional. Apesar do quadro político nacional dantesco, ninguém de relevância “dá bola” pra ele.

Assim como a Sarney, deve ter aviado “pedidos de visitas” aos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique, supostamente, para revelar-lhes preocupação com o “perigo” que corre a democracia brasileira. A exceção de Lula, acredito que, também, FHC o tenha recebido por educação.

O argumento de que sua excelência encontra-se preocupado com o “perigo” que corre a democracia brasileira não resiste – mesmo –, a um exame superficial. 
Como temos assistido o governador do Maranhão tem fomentado por todos os meios de comunicação disponíveis a instabilidade política no país. 

Basta dizer que até hoje não reconhece a legitimidade do presidente eleito com mais de 57 milhões de votos, não permitindo que a foto oficial do presidente da República cruze os umbrais do Palácio dos Leões; fustiga dia sim e no outro também o governo Bolsonaro, tendo razão ou não; coloca-se frontalmente contrário a Operação Lava Jato, inclusive, defendendo a sua anulação e, consequentemente, a soltura de todos condenados decorrentes da operação; por último, pelo que ficamos sabendo, até se tornou subscritor.
Abdon Marinho é advogado.

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